quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Mensagem natalícia

DESAFIO

Nesta época natalícia convidamos à participação:
partilhe, neste espaço, a sua mensagem de Natal, sob a forma de um poema ou texto da sua eleição, de autor consagrado.



Para começar...


Este ano apeteceu-me semear searinhas como na minha infância.
Isto é, comprei trigo e espalhei os bagos em pires de barro
até dentro
de um búzio
reguei-os e fiquei ansiosamente a senti-los levedar.
Todas as manhãs me tenho precipitado para ver como cresceram
durante a noite
e para os borrifar com a boca como dantes fazia.
Quando eu era menina não havia árvores de Natal:
armávamos o presépio
em chão de cortiça e musgo
onde a searinhas espigavam a sua verde
verdade.
Povoar esse pequeno mundo saído de nossas mãos
com figurinhas de barro
algumas por mim moldadas
tinha um sabor
a milagre.
Sentia que o Menino Jesus nuzinho nas palhas
era sobretudo filho do pequenino ventre dos inúmeros grãos de trigo
que eu tinha visto inchar e depois lançar raízes e rebentos.
Também enfeitávamos o presépio com "cabeleiras", de sementes
de ervilhacas
mantidas no escuro para saírem brancas como a neve
essa neve que não havia no meu Sul natal.
Quando eu era menina
não havia Pai Natal:
os presentes eram postos pelo Menino Jesus
no sapatinho
que na véspera se deixava na chaminé
e cabiam
lá todos porque eram poucos e por isso mais amados.
Agora o Pai Natal é um palhaço triste
porque não faz rir
nem pertence a circo nenhum.
Agora é tudo de plástico
até a Arvore de Natal que se guarda de uns anos para os outros.
No meu computador um Pai Natal saltitão a fazer gaifonas
oferece-se para levar as Boas Festas por correio electrónico.
Agora até as Boas Festas são electrónicas!
Que saudades
do meu Menino Jesus a tiritar nas palhas
aquecido pelo bafo
do burrinho e da vaca
e do presépio da minha infância
alumiado por uma lamparina de azeite
enfeitado
com searinhas, "cabeleiras", tangerinas e laranjas!

Teresa Rita Lopes, O sul dos meus sonhos

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